Tuesday, December 26, 2006

Blogar ou não blogar

Eu vivo entre indeciso sobre manter um blog ou não. Os amigos dizem para eu blogar, mas daí eu blogo e me vejo nesta situação: nunca usei a palavra "ceia" num texto, acho que a vi escrita umas três ou quatro vezes na minha vida. Daí, escrevo errado "seia". Olho para a palavra e ela me parece meio estranha, mas não consigo identificar exatamente onde. Fico com preguiça de olhar no dicionário e acabo publicando com esse erro horroroso. Ainda mais no título.

Daí fica aquela coisa: o governo Lula não só contrata diplomata monoglota, como analfabeto. É muita exposição, mó merda. Acho que blog é pra pessoas dedicadas, que vão ler e reler o texto antes de publicar. Ou então para quem tem português e senso (ai, deixa eu ver no dicionário para ver se escrevi certo) de conveniência perfeitos ou ainda para quem não está nem aí pro que os outros vou achar. Acho que não me encaixo em nenhuma dessas categorias... Aiai...

Monday, December 25, 2006

Praia de Natal

Hoje, dia 25, fomos à praia em Palmeirinhas, a 30 km ao sul de Luanda. Eu já tinha ido lá, como contei alguns posts atrás. O plano inicialmente era irmos até Cabo Ledo, que fica 150 km ao sul, mas fiquei com medo de a gasolina não dar. Além disso, nos atrasamos porque, como nunca fui lá, quis pesquisar na internet sobre como chegar e ainda tive de passar na embaixada pra pegar meu passaporte: Cabo Ledo já fica em outra província (Kwanza Sul) e às vezes pedem passaporte na divisa entre províncias.

O problema da gasolina é o mesmo da eletricidade: distribuição. O país produz as duas formas de energia em excesso (Angola entrou para a Opep duas semanas atrás), mas não tem capacidade de distribuição. Então, falta energia elétrica toda hora, e é um suplício abastecer o carro. As filas nos poucos postos de gasolina são infindáveis. Além disso, é preciso, cada vez, descobrir qual o posto que tem gasolina. Sempre peço para um dos motoristas da embaixada abastecer para mim.

Cabo Ledo supostamente é uma das praias mais bacanas da região. Faz parte do parque nacional da Quissama. Me disseram que é fantástico para surfar porque rola um esquema meio Arpoador: há uma ponta de terra por meio da qual é possível caminhar até depois da arrebentação, em vez de ter de nadar até lá. Então, além das ondas serem muito boas, é possível pegar muito mais ondas por dia. Estou pensando seriamente em comprar uma prancha na África do Sul.

Hoje teria sido um bom dia para ir porque os angolanos não saem de casa no dia 25, de modo que as estradas estariam tranqüilas. Nos dias normais, a volta da praia é chata e perigosa. Ocorrem engarrafamentos enormes, e as pessoas dirigem como umas malucas, doidas com a cerveja que tomaram durante o dia. De fato, fomos e voltamos de Palmeirinhas numa ótima. A praia estava vazia, vazia. Só tinha umas 20 pessoas, numa praia enooooooooooorme. Achei mais legal do que da primeira vez porque o mar estava mais manso tb. Enfim, foi uma praia gostosa.

Voltamos pra casa e jantamos o nosso peru. Acho que vamos comer peru pelos próximos três meses...

Ceia de Natal

Nossa ceia de Natal foi o máximo. Deu tudo certo. Andréia e eu resolvemos passar o Natal a dois, sozinhos aqui na casa do Afonso. A farra seria preparar a ceia, nossa primeira.

Decidido o menu (peru, farofa, salada e, de sobremesa, ambrosia) o desafio foi encontrar os ingredientes. Foi a maior gincada porque nenhum supermercado tinha tudo, tivemos de rodar Luanda atrás das coisas, mas encontramos. Nosso maior luxo, proporcionalmente, foi comer alface: um pé, R$ 35. Compramos um peru da Sadia de quase 5 kg. Pra rebater, uma champanha Moët et Chandon Brut Imperial (esse, em termos absolutos, nosso maior luxo).

Ligamos para mães, avós, tias etc. para confirmar nossas receitas e passamos o domingo cozinhando. Pra começar, tive de tirar o saco plástico com miúdos de dentro da cavidade abdominal do peru. Fiz isso com um certo desgosto, devo dizer. Daí, ficou lá dentro um osso, e eu, encasquetado pensando que diabos de osso era aquele na cavidade abdominal. Resolvi puxar e ele saiu! Era o pescoço do bicho que tinham cortado e enfiado lá dentro! Rimos à beça.

O suspense maior rolou na hora de assar. As instruções eram para deixar duas horas no forno, mas, depois de uma hora e meia, achamos que já estava torrado de mais por fora, ou seja, o fogo devia estar quente demais. Abaixamos, mas, já no fim, cortamos um pouco e achamos que ainda estava cru por dentro, então ainda deixamos mais meia hora, morrendo de medo de ele queimar por fora. No final das contas, deu tudo certo. Fritamos umas fatias de abacaxi (os abacaxis daqui são os mais gostosos que já comi na vida, realmente fantásticos) e abrimos uma lata de pêssegos em calda pra acompanhar o peru. Fizemos um molho com vinho tinto e a gordura do assado. Tiramos a farofa que havíamos feito antes e estufado dentro do bicho.

A salada tb ficou bem gostosa: aipo, queijo azul dinamarquês (tipo gorgonzola), nozes pecã, maçã e alface.

Fiz também umas caipirinhas pra iniciar os trabalhos.

Arrumamos a mesa bem bonita e jantamos à luz de velas. Foi bem gostoso mesmo. Morremos de saudades da família, é verdade, mas estávamos felizes juntos.

Nossa ceia teve a vantagem sobre as ceias das nossas famílias de só ter um prato de cada tipo: uma carne, um acompanhamento, uma salada e uma sobremesa. Ah, e foi uma refeição só. Deu pra focar, entende. No Rio, são várias refeições, cada uma com vários pratos. Daí a pessoa fica agoniada querendo provar de tudo. Só coloca um pouquinho de cada coisa no prato, mas acaba querendo comer mais. O resultado, geralmente, é que se come demais. Nós aproveitamos bastante, mas sem ficarmos entupidos.

Pra diminuir a sensação de distância, mandamos presentes para a família. Comprei lembrancinhas na Richards e com a Marly, artesã de capim dourado de Palmas (TO). Mandei entregar tudo na casa da minha mãe. A Andréia teve menos sorte: fez encomendas no Boticário que não chegaram a tempo.

Saturday, December 16, 2006

Bem acompanhado

Andreia chegou pouco mais de um mês atrás. Estava muito difícil a distância. As três primeiras semanas foram difíceis, mas depois a gente teve uns papos legais e agora estamos numa ótima. Quer dizer, numa ótima entre nós dois, porque a vida segue difícil sem a nossa casinha. A reforma do apartamento que alugamos ainda não terminou e o nosso conteiner está preso no porto há quase três meses. Enquanto isso, Santo Afonso continua nos hospedando numa boa, mas já está ficando desconfortável tanto pra ele quanto pra nós. De qualquer forma, ele sai de férias no dia 21, já vai se ver livre da gente.

A chegada da Andreia gerou várias externalidades positivas, mas queria ressaltar a de que fiquei mais à vontade para caminhar na rua. Ela é muito desassobrada com essas coisas, eu também geralmente sou. Aqui, no entanto, todo mundo me apavora constantemente. Ela saiu por aí caminhando, e não aconteceu nada. Ela vai ao comércio, vai fiscalizar as obras no apartamento... Segundo ela, nunca ninguém sequer lhe disse algo agressivo. Isso me deixou bem mais feliz com a cidade.

A gente almoça todos os dias juntos. Eu saio da embaixada às 13h, venho para a casa do Afonso, nós almoçamos, descansamos um pouco, e eu volto pro trabalho. Sempre que posso, depois do trabalho, tenho ido nadar e fazer sauna no campo sueco pra tratar das minhas dores nas costas. Nos fins de semana, é que às vezes nado na praia em vez disso.

Hoje mesmo foi uma delícia. Superando nossa preguiça matinal, conseguimos chegar na praia às 10h30. Não tinha ninguém porque angolano só vai pra praia depois das 14h. A água estava ótima: geladinha e transparente. Nadei à beça. Fiquei também lendo um depoimento interessantíssimo do embaixador Ovídeo Melo sobre o reconhecimento da independência de Angola pelo Brasil, que, aliás, é um trunfo imensurável pra nosso diplomacia aqui: é praticamente impossível conversar oficialmente com qualquer autoridade sem que se comece com a ladainha sobre a nossa amizade e sobre esse importante ato do Brasil de Geisel.

Outra fator importantíssimo para as nossa relações é a Odebrecht. Há pouco mais de uma semana, Andreia e eu fomos à festa de fim de ano da empresa. Teve show da Beth Carvalho e tudo. Na mesa principal, o presidente da Odebrecht Angola recebeu, nada mais nada menos, que cinco ministros de Estado angolanos (Vice-Primeiro Ministro, Relações Exteriores, Transportes, Educação e Meio Ambiente), além do presidente do Supremo. Realmente impressionante.

Nós estávamos lindos e glamurosos na festa, mas Luanda não faz por menos. Ao acordarmos no dia seguinte, vimos que havia acabado o diesel no gerador do Afonso (aqui todo apartamento que se prese tem gerador e boa d'água próprios). O resultado: começamos o dia nos cagando todos de diesel e fuligem. Nada melhor para lembrar onde estamos e quem somos.