Sunday, April 15, 2007

Coisas boas

Hoje, vou parar um pouco de reclamar. Recentemente, também aconteceram coisas boas.

Aqui em Luanda, há uma senhora canadense chamada Henriette, que é professora de inglês e ativista cultural. Mantém um grupo chamado Angola Field Group, que reúne estrangeiros em Luanda para passeios e palestras sobre Angola. Fomos no último evento do AFG, uma visita guiada a três fortalezas antigas em Luanda: a de São Miguel, o cartão postal da cidade, a de São Pedro da Barra e uma terceira, cujo nome me escapa agora.

A visita foi organizada por um rapaz angolano, chamado Miro Napoleão, funcionário da Sonangol (a estatal angolana de petróleo), que, nas horas vagas, tenta criar a Sociedade Arqueológica Angolana para estudar e recuperar os monumentos históricos angolanos. O Miro serviu também como intérprete, traduzindo simultaneamente para o inglês as explicações do nosso guia.

O passeio foi muito legal e instrutivo. A organização foi toda muito complicada porque as fortalezas ainda são áreas militares. No caso da de São Pedro, parece que foi um Deus-nos-acuda, tiveram de pedir permissão quase até ao Ministro da Defesa. Tudo isso sem grande sentido, é claro, porque duvido que esses antigos fortes do século XVII ainda tenham alguma importância militar. É tudo paranóia de Estado stalinista e também, é claro, zêlo pela imagem das Forças Armadas: querem q a gente avise com antecedência suficiente para darem uma guaribada nas instalações e no asseio dos soldados.



Nas cervejas que se seguiram ao tour, Andreia e eu conversamos muito com o Miro e o convidamos com a namorada para um lanche aqui em casa. Nesse dia, nos convidaram para uma viagem a Lobito e Benguela no feriado da Páscoa.

A viagem foi super legal. Lobito e Benguela são cidades importantes, ficam a cerca de 500 km ao sul de Luanda. A estrada é razoável, só há um trecho de 40 km muito ruim e a gente ainda por cima o enfrentou sob chuva. Foi a Andreia q enfrentou o parada. Meteu nosso carro em cada piscina de lama! Quando a gente chegou a Lobito, ninguém dizia q nosso carro é azul.

Lobito é o principal porto depois do de Luanda. Fomos com o Miro, os pais e o irmão menor. O mais curioso é que ficamos hospedados no farol de Lobito. Farol mesmo, que emite aqueles feixes de luz para avisar os navios da existência de um ponto importante da costa.



O farol é concessão de um amigo da família do Miro. Um senhor esloveno, da marinha mercante, que se mudou na década de 80 para Angola e hoje trabalha para a capitania dos portos de Lobito. Ele conserva o farol e pode utilizá-lo como casa de fim de semana. A localização é belíssima, na entrada da baía de Lobito, de frente para a ponta da restinga (a versão lobitense da Ilha de Luanda).



Além das atrações turísticas: peixe maravilhoso, praias bonitas e área urbana colonial melhor preservada do q em Luanda, a viagem foi bacana porque foi a primeira vez em q pudemos conviver mais intimamente com angolanos, em particular com uma família angolana. É triste vir para um país e só ficar amigo de estrangeiros.

E, na volta, pra completar bem o feriadão, ainda fomos ao cinema! Sim, no Belas Shopping, o primeiro shopping center de Luanda, inaugurado há poucas semanas, construido pela Odebrecht. Cinemão, multiplex, som dolby maravilhoso! E com filmes atuais. O engraçado é q o pessoal ainda não tá muito acostumado a cinema, então falam pra caramba, principalmente quando tem cena de sexo.

E ainda aproveitamos pra fazer compras no Shoprite, um supermercado sul-africano, e pra cortar o cabelo no Werner. Sim, o Werner do Rio, q agora tem filial aqui.

Enfim, de vez em quando, dá pra dar uma relaxada.

Saturday, March 24, 2007

Fim do inferno astral 2

Acho que comecei o post ontem, dizendo que não queria contar vantagem antes do tempo. Ainda acho que não contei, mas a tarde nos reservou o tipo de irritação que durante um mês, todos os dias, minou nosso bom humor. Agora, que não acontece há vários dias, não foi tão chato: saímos para ir na casa de um amigo e achamos o carro sem os pisca-piscas dianteiros, foram furtados pela segunda vez, aqui mesmo em frente de casa. Já na casa do nosso amigo, caiu mó pé d'água. Quando chegamos em casa, descobrimos que a janela do quarto de visitas continua vazando, ou seja, quando a chuva bate, a janela deixa a água entrar e forma-se uma pequena poça no escritório. Vamos ter de reclamar, mais uma vez, com o Renan, o brasileiro que contratamos para fazer as obras na nossa casa.

Quanto ao furto dos piscas, trata-se de uma verdadeira indústria aqui em Luanda. Embora seja relativamente pequenos os furtos dos carros em si, peças como espelhos retrovisores e faróis (incluindo os piscas) são subtraídos a torto e a direito. Os produtos roubados podem ser encontrados facilmente à venda nos mercados populares da cidade, principalmente no lendário Roque Santeiro, que dizem ser o maior da África. Um amigo, esta semana mesmo, passou pela seguinte situação: tem um carro americano, raro por estas bandas, e teve os espelhos retrovisores furtados. Pediu a um funcionário angolano de sua empresa que comprasse substitutos que acabaram sendo os mesmos que lhe haviam sido tirados de seu carro. Como ele descobriu? Fui eu que observei que os retrovisores "novos" tinham o número do chassis do carro gravado no espelho. Daí foi só comparar com a gravação no próprio chassis. É mole? E o meu amigo ainda pagou um dinheirão, dinheirão mesmo, pelos retrovisores...

Daí há toda uma indústria na cidade de aplicação de pedacinhos de metal nos carros que dificultam a retirada das peças pelos larápios. Essas peças são fixadas com rebites na carroceria do carro. Uma alternativa é entupir de massa, silicone por exemplo, as ranhuras dos parafusos que prendem as peças, de modo que não possam ser facilmente desenroscadas. Na segunda noite em que dormiu na rua, em frente ao nosso prédio, nosso carro perdeu os piscas dianteiros. Daí pedi ao Cláudio, nosso motorista, que submetesse nosso carro a esse procedimento de luandização, mas não funcionou, ao menos em parte, porque os piscas se foram novamente. Detalhe: o carro estava parado há menos de um quarteirão do Ministério do Interior, responsável pelo policiamento no país. Mas se, no Rio, até agência bancária dentro do Palácio Guanabara já foi assaltada, né?

Bom, mas retornando ao post de ontem, terminei contando dos danos que nossas coisas sofreram durante a mudança. Isso foi chato, mas o que infernizou mesmo a nossa vida, principalmente a da Andreia, foram as obras. Se obra já é um negócio complicado no Brasil, imaginem em Angola. Os operários faltavam direto, chegavam atrasados, saíam cedo. Quando vinham, vinham sem material nem ferramentas. A Andreia ficava dias inteiros esperando, sem poder sair de casa, alguém aparecer. Tudo era desculpa: o trânsito, a chuva, as outras obras e, o mais tragicômico, os óbitos. Ah, fora que duas vezes "fiscais" apareceram para embargar a obra. Sim, mas os óbitos: aqui a morte de um ente querido tem de ser festejada com muita comilança, quanto mais querida a pessoa mais se come. A morte de qualquer parente de até quinto grau vira desculpa para a pessoa não aparecer no trabalho por uns cinco dias, no mínimo. É um inferno.

E a qualidade dos acabamentos daqui é uma meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrda, um cocô bem fedorento. Fruto da péssima qualidade da mão de obra local. Os chineses, que constróem muito por aqui, trazem todos os operários de casa. Um dos armários a gente mandou fazer pra guardar a nossa tralha ficou tão ruim q a gente mandou desfazer e comprou um armário industrializado e enfiou no nicho.

Mas já umas duas semanas que não temos grandes tarefas de comprar material, esperar operário, arrumar a casa, tomar decisões difíceis e tal. A nossa vida começou a entrar numa certa rotina. Eu comecei a nadar no Clube Náutico, que fica no comecinho da Ilha, a uns 10 minutos de carro daqui. Eles têm uma piscina de 25 lá. Comecei indo de manhã cedo, uma delícia, ninguém na piscina. Evidentemente, alguma coisa tinha q estragar o meu prazer: no fim de semana seguinte, morreu afogado um garoto porque não havia nenhum guarda-vidas presente no clube. Então a piscina passou a ficar fechada a não ser nos horários em que há salva-vidas, o q, aliás, é bem prudente. Mas pra mim complicou, só posso nadar agora depois do trabalho. Às vezes, quando vou pro clube e a piscina está fechada, acabo indo nadar na praia mesmo, mas é mais demorado e eu sinto que não faço tanto exercício, é uma natação mais a passeio mesmo.

Pra concluir simbolicamente o nosso processo de instalação, ante-ontem, sexta-feira, o embaixador e o conselheiro vieram almoçar aqui em casa. O embaixador nos deu de presente um tapete de palha (ráfia, acho). Super legal. A Andreia caprichou na bóia. Foi comprar peixe na Ilha, direto dos pescadores, com o cozinheiro do embaixador. Fez o peixe assado. Pra acompanhar arroz, beringela, ervilhas frescas e, o toque angolano, quissaca com ginguba (folha de aipim amassada com farinha de amendoim). Deu certo.

Espero que, de agora em diante, com um lugar confortável pra se esconder, a gente possa aproveitar mais o q o país tiver de bom pra oferecer. Um bom exemplo disso é o por-do-sol da nossa casa:

Fim do inferno astral

Uff! Sobrevivemos... Não quero contar vantagens antes do tempo, mas acho que ontem terminou nosso inferno astral, que durou de fins de janeiro até há uns poucos dias.

Fiz meu último post em fins de dezembro. Depois disso, passamos o Ano Novo na casa da nossa amiga Maria, aqui mesmo em Luanda e fizemos um passeio legal com Eduardo e Carolina (que, aliás, se casaram ontem, em Baires, com a participação de flores enviadas por nós com a ajuda do Felfer) ao Parque Nacional da Quissama. O parque é bonito, mas os bichos (ou a falta deles é decepcionante). Enfim, mais uma instituição em (re)construção neste país.

Durante a minha encarregatura, enfrentei uns perrengues. O maior deles acho que foi o atraso do pagamento dos funcionários locais, muitos dos quais passaram o Natal sem grana pra nada. Um bando de marmanjo com cara de cachorro com fome... Ai, o Itamaraty, o Itamaraty... Experimentei o quão difícil é ser chefe. Mas fiz pelo menos um telegrama legal, com a vantagem de ter saído com a minha assinatura, sobre a sucessão presidencial.

Quando o Afonso chegou das férias, viajamos para a África do Sul. Passamos uma semana na Cidade do Cabo e uma semana passeando de carro pelos arredores. É uma região lindíssima, parece a Toscana combinada com praias bacanas. Como a Itália, tem vinho e comida magníficos também. E tudo super organizado e bem mantido. Um encanto. A Cidade do Cabo lembra bastante o Rio: fica espremida entre as montanhas e o mar, tem bondinho, jardim botânico e parque nacional deslumbrantes, o DDD é 21, tem um ar descontraído, todo mundo andando de chinelo... O apartheid social é mais forte, as favelas bem escondidas... Mas tem algumas vantangens também: pra início de conversa, uma vinícola do século XVII que é a melhor do país, há meia hora de carro, por estradas impecáveis, do centro da cidade. E flores, flores, flores, em tudo quanto é canto. O duro foi voltar.

Passei meu aniversário de 30 anos em Wilderness, uma cidade na Garden Route, uma região que seria o equivalente à Região dos Lagos no Estado do Rio. Mas muito mais organizada. Foi a primeira vez em que mergulhamos no Oceano Índico. A efeméride faz pensar. (Principalmente depois de termos voltado e estarmos juntos na trincheira (vc q me disse essa, Felfer) lutando pra conseguir montar nossa casa.) Os 30 anos somados à situação em que me encontro dão a sensação de que a infância acabou, de que não há mais qualquer resquício dela na minha vida cotidiana. Isso, por um lado, é bom porque mostra que vc conseguiu sobreviver à passagem e, enfim, funcionar como adulto, o q quer q isso signifique existencialmente. Mas, por outro, dá uma saudade danada de ter com quem brincar. Afora que a gente engorda, perde cabelo...

O período entre a volta da África do Sul (fins de janeiro) e uma ou duas semanas atrás é que foi duro. Foi uma luta pra conseguir receber nossa bagagem. A empresa de mudanças daqui chegou a estar na posse do nosso contêiner por quase uma semana sem nos dizer. Aparentemente, só pra poder continuar cobrando taxas de sobrestadia da empresa brasileira. Quando resolveram entregar, o contêiner não pôde ser descarregado na porta de casa porque o trânsito não permite. Tiramos as coisas na frente da embaixada, colocamos num pequeno caminhão e trouxemos pra casa. Um procedimento com momentos surreais, como aquele em que os carregadores ensaiaram uma pequena greve porque, supostamente, não teriam sido avisados de que teriam de subir dois andares de escada.

Uma vez entregue a mudança, havia muita coisa que não podíamos desempacotar porque não tínhamos onde guardar ou porque queríamos manter protegido da horrorosa poeira que entra pelas janelas. Não tínhamos onde guardar porque os armários que mandamos fazer ficaram uma merda, um dos quais até tivemos de mandar desmanchar. Tínhamos de proteger da poeira porque o ar-condicionado da sala ainda não havia sido instalado e, por isso, as janelas tinham de ficar abertas. (Agora, as nossas janelas ficam fechadas o tempo todo.)

Uma semana depois da chegada das nossas coisas, nos mudamos da casa do Afonso pra cá. Foi um grande alívio pra todas as partes envolvidas. Os primeiros dias foram duros. Ainda não tínhamos cozinha, a casa estava imunda e cheia de baratas. Baratas, sim, muitas baratas... Pelo menos não eram daquele tipo enorme, cascudo. Eram daquelas pequenas, baratinhas. Mas aos montes. Inclusive dentro dos armários. Já pensou nas roupas? Q nojo! Teve uma noite que eu acho q devo ter matado umas 15.

Estamos numa luta constante contra elas desde então. Andréia tapou todas as frestas da casa com massa de madeira ou de silicone. Há umas duas semanas, não vemos mais quase nenhuma. Fizemos uma dedetização hilária. O cara cobrou US$ 100 pra vir aplicar umas gotinhas nos cantos da casa. Andréia pegou a bisnaga e viu q o produto era brasileiro. Dei uma googlada e descobri que UMA bisnaga inteira daquelas custava, no Brasil, R$ 10. Aiai... Mas por enquanto resolveu.

Nesses primeiros dias, contratamos a Guida, nossa empregada, e o Cláudio, nosso motorista. Os dois têm-se mostrado jóia e utilíssimos. O Cláudio então é um gentleman, não sei o q está fazendo aqui, onde não há clubes de cavalheiros, como na City. Sim, motorista. Mas por que precisamos de um? Várias razões. Pra Andreia não ter de me levar pro trabalho, nem o carro ficar preso o dia todo na Embaixada. Pra a Andreia poder locomover-se, pois ela ainda não dirige e não há transporte público aqui. Pra eu poder vir almoçar em casa: não tem onde estacionar, então o Cláudio tem de ficar dando voltas com o carro. Pra gente não precisar enfrentar as enormes e demoradíssimas filas dos postos de combustíveis.

Bom, e aí, aos poucos, nós fomos desempacotando as nossas coisas... e descobrindo os prejuízos. Alguns itens que nós pedimos para serem engradados, isto é, embalados com madeira, não o foram e, por isso, se danificaram: um tampo de mármore, os tampos de madeira da nossa mesa de jantar e a nossa luminária de disco-voador. A geladeira amassou porque estava junto à parede do contêiner que levou uma porrada durante a viagem. E um tampo de cristal, da mesa de centro que nós compramos nas vésperas de viajar e nem tínhamos usado ainda, simplesmente sumiu, desapareceu, escafedeu-se... Inclusive, não está nem na lista oficial de bens... Nós desconfiamos da moça que fez a lista. Achamos que ela não incluiu o tampo porque estava de olho nele. Enfim, estamos acionando o seguro e encomendei um outro tampo de cristal da loja, que já foi entregue na casa da minha mãe no Rio e que o pessoal da Odebrecht vai me ajudar a trazer pra cá.

(Continua no próximo post.)

Tuesday, December 26, 2006

Blogar ou não blogar

Eu vivo entre indeciso sobre manter um blog ou não. Os amigos dizem para eu blogar, mas daí eu blogo e me vejo nesta situação: nunca usei a palavra "ceia" num texto, acho que a vi escrita umas três ou quatro vezes na minha vida. Daí, escrevo errado "seia". Olho para a palavra e ela me parece meio estranha, mas não consigo identificar exatamente onde. Fico com preguiça de olhar no dicionário e acabo publicando com esse erro horroroso. Ainda mais no título.

Daí fica aquela coisa: o governo Lula não só contrata diplomata monoglota, como analfabeto. É muita exposição, mó merda. Acho que blog é pra pessoas dedicadas, que vão ler e reler o texto antes de publicar. Ou então para quem tem português e senso (ai, deixa eu ver no dicionário para ver se escrevi certo) de conveniência perfeitos ou ainda para quem não está nem aí pro que os outros vou achar. Acho que não me encaixo em nenhuma dessas categorias... Aiai...

Monday, December 25, 2006

Praia de Natal

Hoje, dia 25, fomos à praia em Palmeirinhas, a 30 km ao sul de Luanda. Eu já tinha ido lá, como contei alguns posts atrás. O plano inicialmente era irmos até Cabo Ledo, que fica 150 km ao sul, mas fiquei com medo de a gasolina não dar. Além disso, nos atrasamos porque, como nunca fui lá, quis pesquisar na internet sobre como chegar e ainda tive de passar na embaixada pra pegar meu passaporte: Cabo Ledo já fica em outra província (Kwanza Sul) e às vezes pedem passaporte na divisa entre províncias.

O problema da gasolina é o mesmo da eletricidade: distribuição. O país produz as duas formas de energia em excesso (Angola entrou para a Opep duas semanas atrás), mas não tem capacidade de distribuição. Então, falta energia elétrica toda hora, e é um suplício abastecer o carro. As filas nos poucos postos de gasolina são infindáveis. Além disso, é preciso, cada vez, descobrir qual o posto que tem gasolina. Sempre peço para um dos motoristas da embaixada abastecer para mim.

Cabo Ledo supostamente é uma das praias mais bacanas da região. Faz parte do parque nacional da Quissama. Me disseram que é fantástico para surfar porque rola um esquema meio Arpoador: há uma ponta de terra por meio da qual é possível caminhar até depois da arrebentação, em vez de ter de nadar até lá. Então, além das ondas serem muito boas, é possível pegar muito mais ondas por dia. Estou pensando seriamente em comprar uma prancha na África do Sul.

Hoje teria sido um bom dia para ir porque os angolanos não saem de casa no dia 25, de modo que as estradas estariam tranqüilas. Nos dias normais, a volta da praia é chata e perigosa. Ocorrem engarrafamentos enormes, e as pessoas dirigem como umas malucas, doidas com a cerveja que tomaram durante o dia. De fato, fomos e voltamos de Palmeirinhas numa ótima. A praia estava vazia, vazia. Só tinha umas 20 pessoas, numa praia enooooooooooorme. Achei mais legal do que da primeira vez porque o mar estava mais manso tb. Enfim, foi uma praia gostosa.

Voltamos pra casa e jantamos o nosso peru. Acho que vamos comer peru pelos próximos três meses...

Ceia de Natal

Nossa ceia de Natal foi o máximo. Deu tudo certo. Andréia e eu resolvemos passar o Natal a dois, sozinhos aqui na casa do Afonso. A farra seria preparar a ceia, nossa primeira.

Decidido o menu (peru, farofa, salada e, de sobremesa, ambrosia) o desafio foi encontrar os ingredientes. Foi a maior gincada porque nenhum supermercado tinha tudo, tivemos de rodar Luanda atrás das coisas, mas encontramos. Nosso maior luxo, proporcionalmente, foi comer alface: um pé, R$ 35. Compramos um peru da Sadia de quase 5 kg. Pra rebater, uma champanha Moët et Chandon Brut Imperial (esse, em termos absolutos, nosso maior luxo).

Ligamos para mães, avós, tias etc. para confirmar nossas receitas e passamos o domingo cozinhando. Pra começar, tive de tirar o saco plástico com miúdos de dentro da cavidade abdominal do peru. Fiz isso com um certo desgosto, devo dizer. Daí, ficou lá dentro um osso, e eu, encasquetado pensando que diabos de osso era aquele na cavidade abdominal. Resolvi puxar e ele saiu! Era o pescoço do bicho que tinham cortado e enfiado lá dentro! Rimos à beça.

O suspense maior rolou na hora de assar. As instruções eram para deixar duas horas no forno, mas, depois de uma hora e meia, achamos que já estava torrado de mais por fora, ou seja, o fogo devia estar quente demais. Abaixamos, mas, já no fim, cortamos um pouco e achamos que ainda estava cru por dentro, então ainda deixamos mais meia hora, morrendo de medo de ele queimar por fora. No final das contas, deu tudo certo. Fritamos umas fatias de abacaxi (os abacaxis daqui são os mais gostosos que já comi na vida, realmente fantásticos) e abrimos uma lata de pêssegos em calda pra acompanhar o peru. Fizemos um molho com vinho tinto e a gordura do assado. Tiramos a farofa que havíamos feito antes e estufado dentro do bicho.

A salada tb ficou bem gostosa: aipo, queijo azul dinamarquês (tipo gorgonzola), nozes pecã, maçã e alface.

Fiz também umas caipirinhas pra iniciar os trabalhos.

Arrumamos a mesa bem bonita e jantamos à luz de velas. Foi bem gostoso mesmo. Morremos de saudades da família, é verdade, mas estávamos felizes juntos.

Nossa ceia teve a vantagem sobre as ceias das nossas famílias de só ter um prato de cada tipo: uma carne, um acompanhamento, uma salada e uma sobremesa. Ah, e foi uma refeição só. Deu pra focar, entende. No Rio, são várias refeições, cada uma com vários pratos. Daí a pessoa fica agoniada querendo provar de tudo. Só coloca um pouquinho de cada coisa no prato, mas acaba querendo comer mais. O resultado, geralmente, é que se come demais. Nós aproveitamos bastante, mas sem ficarmos entupidos.

Pra diminuir a sensação de distância, mandamos presentes para a família. Comprei lembrancinhas na Richards e com a Marly, artesã de capim dourado de Palmas (TO). Mandei entregar tudo na casa da minha mãe. A Andréia teve menos sorte: fez encomendas no Boticário que não chegaram a tempo.

Saturday, December 16, 2006

Bem acompanhado

Andreia chegou pouco mais de um mês atrás. Estava muito difícil a distância. As três primeiras semanas foram difíceis, mas depois a gente teve uns papos legais e agora estamos numa ótima. Quer dizer, numa ótima entre nós dois, porque a vida segue difícil sem a nossa casinha. A reforma do apartamento que alugamos ainda não terminou e o nosso conteiner está preso no porto há quase três meses. Enquanto isso, Santo Afonso continua nos hospedando numa boa, mas já está ficando desconfortável tanto pra ele quanto pra nós. De qualquer forma, ele sai de férias no dia 21, já vai se ver livre da gente.

A chegada da Andreia gerou várias externalidades positivas, mas queria ressaltar a de que fiquei mais à vontade para caminhar na rua. Ela é muito desassobrada com essas coisas, eu também geralmente sou. Aqui, no entanto, todo mundo me apavora constantemente. Ela saiu por aí caminhando, e não aconteceu nada. Ela vai ao comércio, vai fiscalizar as obras no apartamento... Segundo ela, nunca ninguém sequer lhe disse algo agressivo. Isso me deixou bem mais feliz com a cidade.

A gente almoça todos os dias juntos. Eu saio da embaixada às 13h, venho para a casa do Afonso, nós almoçamos, descansamos um pouco, e eu volto pro trabalho. Sempre que posso, depois do trabalho, tenho ido nadar e fazer sauna no campo sueco pra tratar das minhas dores nas costas. Nos fins de semana, é que às vezes nado na praia em vez disso.

Hoje mesmo foi uma delícia. Superando nossa preguiça matinal, conseguimos chegar na praia às 10h30. Não tinha ninguém porque angolano só vai pra praia depois das 14h. A água estava ótima: geladinha e transparente. Nadei à beça. Fiquei também lendo um depoimento interessantíssimo do embaixador Ovídeo Melo sobre o reconhecimento da independência de Angola pelo Brasil, que, aliás, é um trunfo imensurável pra nosso diplomacia aqui: é praticamente impossível conversar oficialmente com qualquer autoridade sem que se comece com a ladainha sobre a nossa amizade e sobre esse importante ato do Brasil de Geisel.

Outra fator importantíssimo para as nossa relações é a Odebrecht. Há pouco mais de uma semana, Andreia e eu fomos à festa de fim de ano da empresa. Teve show da Beth Carvalho e tudo. Na mesa principal, o presidente da Odebrecht Angola recebeu, nada mais nada menos, que cinco ministros de Estado angolanos (Vice-Primeiro Ministro, Relações Exteriores, Transportes, Educação e Meio Ambiente), além do presidente do Supremo. Realmente impressionante.

Nós estávamos lindos e glamurosos na festa, mas Luanda não faz por menos. Ao acordarmos no dia seguinte, vimos que havia acabado o diesel no gerador do Afonso (aqui todo apartamento que se prese tem gerador e boa d'água próprios). O resultado: começamos o dia nos cagando todos de diesel e fuligem. Nada melhor para lembrar onde estamos e quem somos.