Tuesday, December 26, 2006

Blogar ou não blogar

Eu vivo entre indeciso sobre manter um blog ou não. Os amigos dizem para eu blogar, mas daí eu blogo e me vejo nesta situação: nunca usei a palavra "ceia" num texto, acho que a vi escrita umas três ou quatro vezes na minha vida. Daí, escrevo errado "seia". Olho para a palavra e ela me parece meio estranha, mas não consigo identificar exatamente onde. Fico com preguiça de olhar no dicionário e acabo publicando com esse erro horroroso. Ainda mais no título.

Daí fica aquela coisa: o governo Lula não só contrata diplomata monoglota, como analfabeto. É muita exposição, mó merda. Acho que blog é pra pessoas dedicadas, que vão ler e reler o texto antes de publicar. Ou então para quem tem português e senso (ai, deixa eu ver no dicionário para ver se escrevi certo) de conveniência perfeitos ou ainda para quem não está nem aí pro que os outros vou achar. Acho que não me encaixo em nenhuma dessas categorias... Aiai...

Monday, December 25, 2006

Praia de Natal

Hoje, dia 25, fomos à praia em Palmeirinhas, a 30 km ao sul de Luanda. Eu já tinha ido lá, como contei alguns posts atrás. O plano inicialmente era irmos até Cabo Ledo, que fica 150 km ao sul, mas fiquei com medo de a gasolina não dar. Além disso, nos atrasamos porque, como nunca fui lá, quis pesquisar na internet sobre como chegar e ainda tive de passar na embaixada pra pegar meu passaporte: Cabo Ledo já fica em outra província (Kwanza Sul) e às vezes pedem passaporte na divisa entre províncias.

O problema da gasolina é o mesmo da eletricidade: distribuição. O país produz as duas formas de energia em excesso (Angola entrou para a Opep duas semanas atrás), mas não tem capacidade de distribuição. Então, falta energia elétrica toda hora, e é um suplício abastecer o carro. As filas nos poucos postos de gasolina são infindáveis. Além disso, é preciso, cada vez, descobrir qual o posto que tem gasolina. Sempre peço para um dos motoristas da embaixada abastecer para mim.

Cabo Ledo supostamente é uma das praias mais bacanas da região. Faz parte do parque nacional da Quissama. Me disseram que é fantástico para surfar porque rola um esquema meio Arpoador: há uma ponta de terra por meio da qual é possível caminhar até depois da arrebentação, em vez de ter de nadar até lá. Então, além das ondas serem muito boas, é possível pegar muito mais ondas por dia. Estou pensando seriamente em comprar uma prancha na África do Sul.

Hoje teria sido um bom dia para ir porque os angolanos não saem de casa no dia 25, de modo que as estradas estariam tranqüilas. Nos dias normais, a volta da praia é chata e perigosa. Ocorrem engarrafamentos enormes, e as pessoas dirigem como umas malucas, doidas com a cerveja que tomaram durante o dia. De fato, fomos e voltamos de Palmeirinhas numa ótima. A praia estava vazia, vazia. Só tinha umas 20 pessoas, numa praia enooooooooooorme. Achei mais legal do que da primeira vez porque o mar estava mais manso tb. Enfim, foi uma praia gostosa.

Voltamos pra casa e jantamos o nosso peru. Acho que vamos comer peru pelos próximos três meses...

Ceia de Natal

Nossa ceia de Natal foi o máximo. Deu tudo certo. Andréia e eu resolvemos passar o Natal a dois, sozinhos aqui na casa do Afonso. A farra seria preparar a ceia, nossa primeira.

Decidido o menu (peru, farofa, salada e, de sobremesa, ambrosia) o desafio foi encontrar os ingredientes. Foi a maior gincada porque nenhum supermercado tinha tudo, tivemos de rodar Luanda atrás das coisas, mas encontramos. Nosso maior luxo, proporcionalmente, foi comer alface: um pé, R$ 35. Compramos um peru da Sadia de quase 5 kg. Pra rebater, uma champanha Moët et Chandon Brut Imperial (esse, em termos absolutos, nosso maior luxo).

Ligamos para mães, avós, tias etc. para confirmar nossas receitas e passamos o domingo cozinhando. Pra começar, tive de tirar o saco plástico com miúdos de dentro da cavidade abdominal do peru. Fiz isso com um certo desgosto, devo dizer. Daí, ficou lá dentro um osso, e eu, encasquetado pensando que diabos de osso era aquele na cavidade abdominal. Resolvi puxar e ele saiu! Era o pescoço do bicho que tinham cortado e enfiado lá dentro! Rimos à beça.

O suspense maior rolou na hora de assar. As instruções eram para deixar duas horas no forno, mas, depois de uma hora e meia, achamos que já estava torrado de mais por fora, ou seja, o fogo devia estar quente demais. Abaixamos, mas, já no fim, cortamos um pouco e achamos que ainda estava cru por dentro, então ainda deixamos mais meia hora, morrendo de medo de ele queimar por fora. No final das contas, deu tudo certo. Fritamos umas fatias de abacaxi (os abacaxis daqui são os mais gostosos que já comi na vida, realmente fantásticos) e abrimos uma lata de pêssegos em calda pra acompanhar o peru. Fizemos um molho com vinho tinto e a gordura do assado. Tiramos a farofa que havíamos feito antes e estufado dentro do bicho.

A salada tb ficou bem gostosa: aipo, queijo azul dinamarquês (tipo gorgonzola), nozes pecã, maçã e alface.

Fiz também umas caipirinhas pra iniciar os trabalhos.

Arrumamos a mesa bem bonita e jantamos à luz de velas. Foi bem gostoso mesmo. Morremos de saudades da família, é verdade, mas estávamos felizes juntos.

Nossa ceia teve a vantagem sobre as ceias das nossas famílias de só ter um prato de cada tipo: uma carne, um acompanhamento, uma salada e uma sobremesa. Ah, e foi uma refeição só. Deu pra focar, entende. No Rio, são várias refeições, cada uma com vários pratos. Daí a pessoa fica agoniada querendo provar de tudo. Só coloca um pouquinho de cada coisa no prato, mas acaba querendo comer mais. O resultado, geralmente, é que se come demais. Nós aproveitamos bastante, mas sem ficarmos entupidos.

Pra diminuir a sensação de distância, mandamos presentes para a família. Comprei lembrancinhas na Richards e com a Marly, artesã de capim dourado de Palmas (TO). Mandei entregar tudo na casa da minha mãe. A Andréia teve menos sorte: fez encomendas no Boticário que não chegaram a tempo.

Saturday, December 16, 2006

Bem acompanhado

Andreia chegou pouco mais de um mês atrás. Estava muito difícil a distância. As três primeiras semanas foram difíceis, mas depois a gente teve uns papos legais e agora estamos numa ótima. Quer dizer, numa ótima entre nós dois, porque a vida segue difícil sem a nossa casinha. A reforma do apartamento que alugamos ainda não terminou e o nosso conteiner está preso no porto há quase três meses. Enquanto isso, Santo Afonso continua nos hospedando numa boa, mas já está ficando desconfortável tanto pra ele quanto pra nós. De qualquer forma, ele sai de férias no dia 21, já vai se ver livre da gente.

A chegada da Andreia gerou várias externalidades positivas, mas queria ressaltar a de que fiquei mais à vontade para caminhar na rua. Ela é muito desassobrada com essas coisas, eu também geralmente sou. Aqui, no entanto, todo mundo me apavora constantemente. Ela saiu por aí caminhando, e não aconteceu nada. Ela vai ao comércio, vai fiscalizar as obras no apartamento... Segundo ela, nunca ninguém sequer lhe disse algo agressivo. Isso me deixou bem mais feliz com a cidade.

A gente almoça todos os dias juntos. Eu saio da embaixada às 13h, venho para a casa do Afonso, nós almoçamos, descansamos um pouco, e eu volto pro trabalho. Sempre que posso, depois do trabalho, tenho ido nadar e fazer sauna no campo sueco pra tratar das minhas dores nas costas. Nos fins de semana, é que às vezes nado na praia em vez disso.

Hoje mesmo foi uma delícia. Superando nossa preguiça matinal, conseguimos chegar na praia às 10h30. Não tinha ninguém porque angolano só vai pra praia depois das 14h. A água estava ótima: geladinha e transparente. Nadei à beça. Fiquei também lendo um depoimento interessantíssimo do embaixador Ovídeo Melo sobre o reconhecimento da independência de Angola pelo Brasil, que, aliás, é um trunfo imensurável pra nosso diplomacia aqui: é praticamente impossível conversar oficialmente com qualquer autoridade sem que se comece com a ladainha sobre a nossa amizade e sobre esse importante ato do Brasil de Geisel.

Outra fator importantíssimo para as nossa relações é a Odebrecht. Há pouco mais de uma semana, Andreia e eu fomos à festa de fim de ano da empresa. Teve show da Beth Carvalho e tudo. Na mesa principal, o presidente da Odebrecht Angola recebeu, nada mais nada menos, que cinco ministros de Estado angolanos (Vice-Primeiro Ministro, Relações Exteriores, Transportes, Educação e Meio Ambiente), além do presidente do Supremo. Realmente impressionante.

Nós estávamos lindos e glamurosos na festa, mas Luanda não faz por menos. Ao acordarmos no dia seguinte, vimos que havia acabado o diesel no gerador do Afonso (aqui todo apartamento que se prese tem gerador e boa d'água próprios). O resultado: começamos o dia nos cagando todos de diesel e fuligem. Nada melhor para lembrar onde estamos e quem somos.

Friday, October 27, 2006

Meu carro é vermelho, não uso espelho pra me pentear...

Tá, tudo bem, ele não é vermelho, é azul, mas eu tô me sentindo o máximo mesmo assim. Hoje, finalmente, comprei meu carango. Gente, foi uma novela. Primeiro, mó preguiça de procurar. Depois, mó insegurança sobre o q comprar, quanto gastar etc. Enfim, por insistência dos motoristas da embaixada e por sugestão da Patrícia Galvão, me defini por um Toyota RAV4, modelo europeu, 4x4, 4 portas, com ar, trava elétrica, airbag duplo, ABS, toca CDs e... teto solar! Usado, é claro, ano 2000, importado da Bélgica, 130 mil km, azul marinho. Coloquei uma foto dele aí embaixo (evidentemente, é um primo, não o próprio).



Razões da escolha:

- tem de ser jipe pq as ruas daqui são uma merda e, quando chove, inunda tudo (além disso, é claro, não tem sentido estar na África se não se pode dirigir um jipe);
- tem de ter 4x4 pq eu quero passear por aí, dar umas escapadas de Luanda, e qq estrada, saindo de Luanda, é uma tragédia;
- tem de ser Toyota, modelo europeu, pq a mecânica é simples e tem muita peça disponível, ou seja, qualquer mecânico de beira de estrada conserta;
- por isso mesmo, é um carro muito valorizado aqui, ou seja, perde relativamente pouco valor com o tempo e tem bastante liquidez;
- o resto é por farra mesmo.

Minha estratégia de compra. Fui num feirão com o Moniz, nosso motorista e mecânico, lá no Gamek, em direção a Luanda Sul. Passamos uma manhã lá, olhando pra cara dos carros com essas características. Achamos dois. Estabeleci um patamar de preços, mas não fiquei muito convencido. Voltei pra embaixada sem carro, querendo pensar mais. Conversei depois com um monte de gente. Algumas pessoas me disseram q, pelo menos em parte, meu problema era ser branco: o preço sempre sobe. Daí, pensei no seguinte: eu já tinha idéia de um preço máximo, daí cheguei pro Assis, q é funcionário do Campo Sueco, o condomínio da cooperação sueca em cuja piscina eu nado, e q é todo malandrão e propus a ele o seguinte: ele procurava um carro pra mim, sem dizer que era pra mim, se ele conseguisse abaixar o preço, ele ficava com uma comissão de 20% da diferença entre o preço máximo e o q ele me conseguiu.

Em menos de 24h, ele achou o carro q eu comprei. O preço não era muito diferente do q eu havia achado, mas o carro era consideravalmente melhor. Raspei a minha conta bancária, e tá aí. Este finde, deixei ele dormindo na embaixada pq quero fazer seguro antes de sair por aí barbarizando.

Pena q todo mundo diz q não vale a pena tentar ir de carro até a Namíbia: as estradas entre Luanda e Lubango são supostamente muito ruins. Aliás, eu adoraria ir até a Cidade do Cabo de carro, mas é longe pra cacete.

Por falar nisso, esta semana fiz progressos nos preparativos para a minha viagem. Estou tentando economizar na hospedagem em Cape Town e no aluguel do carro, mas, por insistência do Giu e da Luíza (é tb verdade q sou facinho), vou me permitir um luxo: duas noites com a Andreia no Basse Provence, um hotelzinho q funciona numa antiga vinícola do século XVIII, em Franschoek, na Wine Region. Aqui vai uma foto direto do site do hotel:

Saudades!


Thursday, October 19, 2006

Retomando

Atendendo a pedidos, cá estou eu de novo.

Tinha parado de escrever por preguiça e por estranhar essa coisa de a gente escrever e não ter feedback, escrever, assim, ao vento... Daí comecei a priorizar as respostas aos emails das pessoas q me escreviam diretamente e fui deixando de lado o blog e a mail list. Mas Rodrigo e Jenni reclamaram, então cá estou eu de novo.

Já tenho quase dois meses de Luanda. Já começo a conseguir me orientar pela cidade e a formar uma turminha de amigos.

Mas o processo de aterrisagem ainda não terminou... Já assinei o contrato de aluguel, mas o dinheiro não chega de Brasília. US$ 72 mil por um ano. Como o proprietário precisa do dinheiro pra alugar algo pra si próprio, ele não pode sair. Portanto, não posso começar as obras, que, aliás, não são nada demasiadamente complexas, mas são obras enfim.

A Andreia chega no dia 10. Foi preciso uma certa pressão política para conseguir confirmar a reserva dela, assim como foi no meu caso. A TAAG é uma zona tipicamente angolana. Não se consegue nada entrando na fila, sempre é preciso dar um jeitinho. No caso, pedi pra alguém da DAF2 ligar pra embaixada, assim como eu o tinha feito para mim mesmo, e pedi pra intervirem
junto à companhia aérea para confirmarem logo a reserva. No dia seguinte, estava resolvido.

Mas, enfim, ela chega no dia 10. Eu continuo morando aqui na casa do Eduardo (pra quem não sabe, pedi asilo diplomático ao colega argentino). Não dá pra ficarmos os dois aqui. Hotel tb não será viável durante o período das obras pq a RF já terá chegado e o ministério não pode pagar aluguel e hotel ao mesmo tempo. Acho q vamos acabar aproveitando um viaduto jeitoso q tem ali perto da praia...

Afora isso, meu container já chegou há 10 dias. E ninguém me avisou. Descobri pq pedi para um funcionário da embaixada tentar descobrir quem era o contato da transportadora aqui em Luanda. Quando ele descobriu, a pessoa disse q tinha acabado de saber da chegada do container. A transportadora, por outro lado, me disse que só vai agir para liberar o container depois que o ministério pagar o que deve, e isso é um bocado... Mesmo q fosse liberado amanhã, não teria onde enfiar as minhas tralhas...

O q, sim, consegui foi um lugar para nadar! Justo aqui atrás da casa do Eduardo. É no campo sueco, um terreno q tem um compound administrado pela embaixada sueca, onde mora um monte de gente de ONGs. Lá tem uma sauna ótima e uma piscininha de 15 metros. Melhor do q nada. Logo q cheguei, havia pedido permissão ao embaixador da Suécia pra nadar lá, mas ele disse q a piscina era só para moradores. Ha! Só q depois ele foi embora e a secretária da embaixada, q é parceirona minha, ficou de encarregada e liberou a piscina pra mim! Longa vida aos secretários!!!

No último finde, saí pela primeira vez de Luanda. Formamos uma caravana de três carros. Fomos Nina (conselheira da embaixada dos EUA), Francesca (Itália, não sei q cargo), Giu e Luiza (ele é secretário da embaixada da Itália), Maria e Juan Carlos (ela é a tal secretária da embaixada da Suécia). Fomos a Palmeirinhas, uma praia bem parecida com a de Maricá, no comecinho da península do Mussulo, q é onde quem tem grana em Luanda tem casa de praia. Fica há uns 40 km de Luanda, mas já é bem deserto. A paisagem quando se sai da cidade já é de savana, árvores esparças e gramíneas. Bem parecido com o cerrado. Só q tem um mundo de baobás, q aqui se chamam imbondeiros. Impossível não se lembrar do pequeno príncipe. Só q eu acho a árvore meio feiosa - um tronco muito gordo, desproporcional em relação à copa.

Já estou também planejando minha primeira folga quadrimestral. Vai ser de 5 a 21 de janeiro. Já fiz reservas para a Cidade do Cabo. O Giu e a Luiza me estão ajudando a definir o roteiro. Provavelmente vão ser 5 dias na Cidade do Cabo mesmo. Depois, vamos seguir, de carro alugado, uns dois ou três dias de Garden Route, que é a estrada q segue pelo litoral em direção ao Índico. Acho q vamos até o Cabo Agulhas, q é o ponto mais ao sul do continente. Depois voltamos pelo interior até a Wine Region, que parece ser lindíssima. Vão ser umas férias para descansar da canseira da aterrisagem... e para comemorar meus 30 anos!

Beijos!

Saturday, September 16, 2006

A semana em que achei um apartamento?

Acho que posso ter achado um lugar pra morar. Um corretor me levou pra ver um apartamento de dois quartos na Marginal, que é a avenida ao longo da baía de Luanda. O apê pertence a um funcionário angolano da Embaixada da Alemanha. Parece q, no passado, alguns apartamentos do prédio eram ocupados por diplomatas alemães. Quando a embaixada resolveu desocupá-los, esse funcionário angolano pediu pra ficar morando num deles. Como o registro de propriedade daqui simplesmente não existe... O apartamento tem dois quartos, uma sala muito boa, vista pra baía, mas só um banheiro e uma cozinha muito pequenininha. E não tem garagem. A grande vantagem é que ele é super central. Fica a 10 minutos de carro da nossa embaixada e a um quarteirão de um dos principais supermercados de Luanda. Ele precisa de uma boa pintura e de armários. Ah, e é de segundo andar. Num edifício sem elevador, evidentemente.

No dia seguinte, fui ver uma casa na Praia do Bispo. A casa é muito mais confortável e está toda reformadinha, mas, apesar de não ficar propriamente longe, fica numa região onde não se pode andar a pé. Liguei pra Andreia, que está viajando a serviço pelo interior do Paraná e do Mato Grosso do Sul (vai fazer blitz nas estradas pra ver se pega agrotóxicos ilegais), e perguntei qual das duas situações ela preferia. Chegamos à conclusão de que preferíamos o apê.

Daí, no dia seguinte, voltei no apê com um cara que é o responsável pela manutenção da infra-estrutura física de uma cadeia de restaurantes brasileiros e que, por isso, tem a manha de fazer obra em Luanda. Ele deu umas idéias bem legais sobre o que fazer pra melhorar o apê e disse que voltaria lá no dia seguinte com um pintor, um marceneiro e um técnico em ar condicionados pra fazerem um orçamento de quanto sairia pra deixar o apê nos trinques. O orçamento não pode ser muito alto pq o dono do apartamento vai ter de topar tirar a grana dos US$ 72 mil que o MRE vai dar pelo meu contrato anual de aluguel. Ou então eu vou ter de tirar algo do meu próprio bolso, o que prefiro evitar, evidentemente. Pelo menos, o proprietário parece ser uma boa pessoa, além disso, o fato de que trabalha há muitos anos na embaixada da Alemanha me tranqüiliza bastante tb.

O fato de o apartamento ser na Marginal é legal tb pq vou poder correr no calçadão. Daí gostaria de me matricular no Clube Náutico, que fica no comecinho da Ilha, pra poder nadar lá. Assim, poderia correr até o clube, nadar lá e voltar correndo pra casa. Vou terminar triatleta! Aliás, tenho de voltar logo a fazer exercício pq minhas costas estão me matando e pq estou engordando.

Por falar em engordar, hoje de tarde vai ter feijoada na casa do diretor da Odebrecht Angola. Ele ligou pessoalmente pra convidar. Estou curioso pra ir, entre outros motivos, pq ele mora em Luanda Sul, o bairro que a O. construiu e que eu ainda não conheci.

Este finde eu quase viajei. A Patrícia foi pro Malange, uma província ao norte de Luanda, com o grupo de amigos surfistas dela. Mas tinha gente demais pra pouco carro. Tentei convencer a Carmen, uma equatoriana super gente boa de uma ONG de segurança alimentar, a ir, mas ela tampouco conseguiu um carro. Aliás, eu ainda não comprei um pq ainda não tenho a carteira de motorista daqui. Pra tirar, estava dependendo de ter a identidade diplomática, que só chegou na quinta. Agora, já dei entrada.

Aliás, a Patrícia e o Moniz, motorista da embaixada, me convenceram de que o melhor carro pra ter aqui é um Toyota Rav4. É um jipinho de madame desses. É importante ser Toyota pq é a marca cujas peças de reposição são as mais fáceis de encontrar. Além disso, o carro é fácil de vender. Tem uns que vem de segunda mão da Europa. Quando tiver minha carteira de motorista, vou sair pra procurar um. O dindin já tenho, o da ajuda de custo.

OK, cansei. Este finde vai ter mais posts, acho, pq é feriadão. Amanhã, é aniversário de Agostinho Neto, portanto, Dia do Herói Nacional. Como cai no domingo e a rapaziada não pode ficar sem um feriado, na segunda, ninguém trabalha. Bom, fds pra vcs!

Sunday, September 10, 2006

Domingão de bobs em Luanda

Ia rolar uma praia hoje, mas não sei pq a Patricia não ligou. Não sei se contei pra vcs, mas no show do Zeca Baleiro encontrei uma conhecida, uma advogada q foi minha chefe num estágio q fiz durante a faculdade numa ONG de direitos humanos chamada CEJIL. Ela está aqui trabalhando numa outra ONG chamada Open Society, mas já está de mudança para Joanesburgo. Eu a convidei pra ir ontem ao baile de encerramento da Semana do Brasil, organizada pela associação de empresários brasileiros em Angola (Aebran) em homenagem ao 7 de Setembro. Daí combinamos de ir à praia hoje, uma praia fora da cidade pq as daqui são meio sujas, com uns amigos dela que ela queria me apresentar pra eu começar a fazer uns amigos fora do circuito. Mas aparentemente deu chabu, até pq estou sem celular desde ontem.

Meu celular vem dando problemas desde q cheguei... Funciona, mas vive saindo de área. Ontem, almocei com a Patricia, o Afonso e um amigo sueco que trabalha na Ericsson. Quando contei que na Guiné-Bissau meu cel não tinha funcionado, ele me explicou que meu celular não funciona em 900MHz, só em 1800, que é uma tecnologia mais recente. Como a maioria das células em Luanda funcionam com 900, meu telefone fica saindo do ar... Vou ter de comprar um outro. Só que, pra descobrir isso, ele desligou o meu telefone e eu agora não tenho o PIN pra ligar, só na Embaixada. Estou sem telefone e sem agenda... Mas tá bom, estou curtindo ficar de bobeira no hotel, terminando de ler meu livro "A history of postcolonial lusophone Africa". Muito interessante, por sinal. Acabei de almoçar e mais tarde vou dar uma passeada no calçadão.
Está sendo ótimo descansar depois da correria da semana do Brasil.

Aliás, estou impressionadíssimo com a organização da Aebran. A semana do Brasil foi do cacete, duvido muito que haja outra capital que comemore tanto o 7 de Setembro como Luanda e, certamente, aqui não há outro país que tenha tanta projeção quanto nós. Uma pesquisa de opinião entre luandenses revelou que o Brasil é o país preferido deles e o segundo melhor pra fazer negócios. Depois da China, é claro. O melhor da Semana foi que pude curtir bastante os eventos. Praticamente só tive de escrever os discursos do embaixador e aparecer pra fazer social. Aliás, o discurso de ontem fez sucesso, foi interrompido por aplausos e tudo. Acho que o embaixador ficou contente.

O baile ontem foi esquema super-produção. É, de fato, há três anos, um dos mais concorridos eventos sociais da cidade. Ontem, a "família presidencial" angolana foi representada por uma filha e um filho do José Eduardo dos Santos. Rolou num antigo cinema, chamado Tropical, um cinemão daqueles antigos, enoooooooooooooooormes, que foi transformado em casa de festas e espetáculos. Teve discursos, jantar (lagostas em quantidades industriais), shows do Olodum e de uma banda tradicional local, a Maravilha, e, pra terminar, discoteca. Foi tudo organizado pela Aebran, que vendeu convites para financiar o evento. O grosso foi comprado pela Odebrecht e pela Petrobrás, é claro. Uns 60 ingressos foram doados à embaixada para que pudéssemos convidar autoridades. O Ministro do Interior foi.

Cumpridas as obrigações diplomáticas, dancei bastante: quizomba, semba e outros ritmos locais, cujos nomes agora esqueci, além do nosso samba, salsa e merengue. Uma mistureba afro-latinoamericana muito legal.

Me impressionou muito conhecer alguns engenheiros brasileiros da Odebrecht que pareciam ter 25 anos e estavam tocando obras enormes, tipo um shopping center inteiro. Fico sempre muito impressionado como Angola é um mundo de oportunidade pra gente qualificada. É um país com tudo pra se fazer e onde rola uma grana muito alta. Só é preciso ter os contatos certos e estômago pra aguentar o desconforto físico e social.

Uma coisa interessante que fuz esta semana foi representar o embaixador numa reunião convocada pelo diretor do PNUD em Luanda com representantes dos países doadores para discutir a política das agências da ONU em Angola. Várias questões interessantes foram levantadas, entre elas como convencer os nossos governos a continuar doando assistência técnica a Angola quando os caras estão nadando em dinheiro. Tipo, Angola é o país cujo PIB mais cresce no mundo, coisa de mais de 20% ao ano (tá certo q é irreal pq a única coisa que eles produzem é petróleo e o PIB reflete praticamente só o aumento do preço do petróleo e o aumento do número de poços em funcionamento). Um dos argumentos levantados, acho que pela embaixadora dos EUA, a favor da continuidade da assistência é q os angolanos são orgulhosíssimo (isso todo mundo diz) e morrem de medo do fracasso. Daí se a gente faz um projetinho piloto e mostra q alguma coisa pode funcionar, o governo se convence depois a botar grana na parada. Enfim, o trabalho aqui está realmente interessante. Só falta conseguir um lugar pra morar.

Por falar nisso, me disseram hoje que o mercado imobiliário vai ficar ainda pior. O governo está pedindo de volta uma série de imóveis que havia emprestado a organismos internacionais e embaixadas. Daí tem um monte de gringo entrando no mercado pra alugar... Tô fodido.
Bom domingo pra vcs!

Wednesday, September 06, 2006

10 dias

Oi, gente!

Hoje eu tô feliz. Acabei de chegar de um show do Zeca Baleiro que foi bem legal. O show faz parte da programação da comemoração do 7 de Setembro aqui em Luanda. São vários eventos ao longo de toda a semana, promovidos pela associação de empresários e executivos brasileiros em Angola: projeção de filmes, debates, shows do Zeca Baleiro e do Olodum, um recital de piano e um festival gastronômico. Esta noite, vai ter o coquetel oficial da data nacional, com recital de piano, e o embaixador vai ler um discurso que foi minha primeira encomenda.
Foi muito bom ter ido ao show agora há pouco pq tá um saco essa coisa de ir só da embaixada pro hotel e do hotel pra embaixada. A única outra coisa que fiz até agora foi jogar peteca na praia. Aí, jogar peteca é divertido, parece vôlei, mas é peteca, sacou?

Ah, outra coisa que fiz fora do circuitinho foi ir anteontem dar uma palestra na faculdade de direito da universidade agostinho neto (a pública daqui) sobre o sistema eleitoral brasileiro. Eles estão super interessados pq nunca passaram pelo processo todo. A única eleição que se realizou aqui foi em 1992 e o cara que perdeu resolveu melar o jogo, morreu gente pra caralho. Daí fui lá, a convite da associação de alunos, expliquei o melhor que pude a nossa bagunça, mensalão inclusive que eles estavam curiosíssimos para entender. A comédia é que eles são super bacharelescos, igualzinho os portugueses, tipo Lauro, saca? Me chamaram de professor doutor e o cacete. O momento mais legal pra mim foi quando um garoto explicou o sistema eleitoral (?) angolano e daí teve de tecer comentar sobre a anomalia do presidente que eles têm que nunca foi eleito. O garoto criticou essa situação, mas dava pra notar a tensão na sala e o nervosismo do menino...

Gente, outra coisa, o mercado imobiliário daqui é absolutamente surreal. Tô morando no hotel e esperando pra ver se acontece um milagre. Tinha uma casa q a embaixada alugava havia muitos anos, justo ao lado, mas um conselheiro i resolveu preferir morar em outro lugar e foi preciso devolver a casa se eu estivesse em ny com essa grana, me dava bem, mas aqui só me levaram pra ver moquifo mas é uma porrada de corretor diferente que tá me atendendo, teria de ser um complô de todos eles pra início de conversa eu to competindo com as companhias de petróleo, coisa pequena, tipo chevron, elf, total, exon etc...gente q não tem exatamente muita restrição orçamentáriadepois, há 40 anos não se investe na manutenção dos imóveis de luandaa cidade foi projetada pra 300 mil pessoas e moram 5 milhõesdepois que os portugueses foram embora, os angolanos sem teto invadiram tudo e transformaram tudo em cortiçospra piorar, o trânsito daqui é uma coisa dantesca, nunca vi maluquice maior, leva-se uma hora e meia pra percorrer um trecho de 12 kmisso restringe muito o raio em volta da embaixada onde posso morar

Sunday, August 27, 2006

Finalmente, dormi

Viva! Hoje finalmente eu consegui dormir... Óbvio, não sem um pouc0 de insônia antes. Insônia de fome. Tive de esperar quatro horas para o restaurante do hotel abrir e eu poder tomar café da manhã. Daí, quando eu acordei de novo, já era uma da tarde. Mas já estava muito cansado de dormir tão pouco. Os últimos dias foram de pouco sono...

Acordei com a paisagem de fim de cacimbo, que é o inverno daqui. Tecnicamente, o cacimbo já terminou no dia 15, mas a atmosfera não parece se dar muita conta disso. O inverno é seco, como o de Brasília, mas, no cacimbo, o céu fica sempre assim meio enevoado. Já ouvi falar até que é por causa de uma nuvem de areia que sobe do deserto da Namíbia. O resultado é que o dia fica meio feio, mas é gostoso ficar no sol, pq não é quente demais.

Por isso, foi agradável a tarde na Ilha de Luanda, aonde o Afonso me levou pra almoçar. A ilha é bem comprida e tem quebra-mares de a cada 200 metros mais ou menos, formando pequenas praias, cada uma com um bar geralmente. O mar é mansinho, já me animei de nadar lá.

O sol se pôs vermelhão, bem no meio do mar. Pena que não dá pra vê-lo tocar a água pq as nuvens são tão espessas perto do horizonte que o sol some antes de alcançá-lo... Parece que é sempre assim.

Fomos ver o fim de tarde no forte de Luanda, bem português o forte, no alto de um morro que domina a baía de Luanda. Tem uma vista bonita da cidade, toda ocre. Ao longe, o horrendo mausoléu soviético de Agostinho Neto, que parece saído do cenário de Guerra nas Estrelas...

Amanhã, começa o trabalho. Que frio!

Saturday, August 26, 2006

Primeirão

Cheguei. Ontem de noite (sexta, dia 25 de agosto). Engraçado, me toquei agora de que, se não for exatamente essa a data, é quase a mesma de quando cheguei na Alemanha pra fazer intercâmbio em 1993. É engraçado pq, ontem, a caminho pro aeroporto, pensei pra caramba nessa minha partida para o mundo, cheguei a conversar sobre isso com papai e mamãe, mas só me ocorreu essa lance da data agora.

O conselheiro Afonso me buscou na porta do avião e, enquanto um funcionário da embaixada buscava minha bagagem, enchemos a cara de gin tônica no bar do aeroporto. Depois, passamos no hotel para deixar minhas malas e fomos jantar num bar-restaurante na ilha de Luanda (uma peninsula que fica na frente da cidade).

Hoje acordei e fui pro apartamento do Afonso, que mora aqui no mesmo quarteirão do meu hotel. Conheci o apê dele, que é super legal, pra me inspirar na busca. Depois, compramos um chip gsm pro meu telefone, assim já tenho celular angolano. Passamos então na casa do secretário da embaixada argentina, de quem já tinha ouvido falar e que tem a minha idade. Ele está de férias na Itália, mas o Afonso ficou com as chaves da casa dele para que eu pudesse ficar hospedado lá se eu quisesse. A casa é bem razoável e fica pertíssimo na nossa embaixada, seria ótimo se eu pudesse alugar algo assim, mas custa mais do que o limite do que o mre paga pra mim. Apesar da gentileza do Eduardo ao me convidar pra ficar na casa dele, preferi ficar no hotel pq tem mais infra.

Por fim, fomos à embaixada, onde o embaixador ofereceu hoje uma feijoada pra algumas pessoas importantes da comunidade brasileira local, a fim de me apresentar. Foi tudo ótimo. Vou dividir a sala com o Afonso. Já identifiquei algumas tarefas para mim, por exemplo instalar na embaixada uma intranet com acesso banda-larga à internet. Temos bons computadores lá, mas eles não conversam entre si e o acesso à internet é discado. Afora isso, os preparativos para a comemoração do 7 de setembro já estão a mil. Vai ter até show do Zeca Baleiro e do Olodum.

Amanhã vamos pegar uma praia. Estou-me sentindo muito bem acolhido e a cidade me impressionou positivamente, parece mesmo bastante razoável. Dizem só que ela está muito mais calma pq é fim de semana e que ela vira o caos na segunda-feira. Vamos ver.